
Capítulo 3-
Com o tempo eu aprendi o significado de
amor ao próximo. Não me ama? Próximo!
Londres; Highgate High School; Segunda-feira; 10:50 da manhã;
- Ai, que saco, é a aula de física. – Lua
comentou dando um suspiro. A garota ao seu lado riu baixo. Estavam dentro da
sala.
- Quê isso. Adoro física. – mordeu a caneta. –
Aula de quê agora?
- Biologia, talvez.
- Já está decorando os horários, gostei de ver.
– sorriu. – Já faz uma semana que você entrou na escola. O que está achando?
- Sinceramente? – a amiga consentiu. –
Diferente.
- Do que?
- Não é “do que”, Melzinha. As pessoas me
olham estranho. É porque sou estrangeira? Quem sabe. – balançou os
ombros. Mel comprimiu os lábios.
- É, quem sabe.
Deu um suspiro e resolveu olhar por cima dos
ombros, em direção à cadeira em frente à porta. O garoto dos olhos foscos
encarava-a com o lábio superior levemente sobreposto ao outro e as sobrancelhas
mais baixas. Sua expressão sempre séria a fazia tremer por dentro. Mirava-a
como um atirador mira o alvo – frio, imóvel.
- Aquele ali é o que mais me assusta. –
cochichou, virando-se pra frente.
Horário de almoço na Highgate, todos já estavam
sentados à suas mesas, brancas e parcialmente limpas. Lanchavam e jogavam
conversa fora.
- Ok, ok. Agora olha essa: O que é um tênis
afundando na areia do deserto?
- Já chega, mica. Suas piadas são
horríveis. – Rod disse colocando maionese em seu hambúrguer.
- Deixa ele, Rod. Eu quero saber.
– Luinha deu de ombros.
- Ela ainda tem paciência porque é nova por
aqui, espera só até semana que vem. – Chay revirou os olhos. –
Titanike, mica. Você contou essa quinta-feira.
- Ah, droga. – socou o ar. – E qual é a
diferença entre a bicicleta e o vaso sanitário? Essa eu já contei?
- Não, não contou. – Mel disse sugando o
suco de uma caixinha, pelo canudinho.
- Tem necessidade mesmo de falar? – Rod
apoiou o queixo na mão.
- Tenho. – sorriu. Os amigos fizeram sinal pra
que ele prosseguisse. – A bicicleta você senta pra correr, e o vaso sanitário
você corre pra sentar. – deu um sorriso idiota, esperando a reação dos demais.
- Por que toda vez que você conta uma piada sem
graça você tem que fazer a cara do burrinho do Emule? – as pessoas na mesa
gargalharam, fazendo mica dar o dedo.
- É uma boa piada.
- Eu também gostei. – Luinha concordou,
percebendo que alguns garotos da mesa ao lado examinavam-na.
- Scott e Bennet. – Mel cochichou baixo,
pra que só ela ouvisse, referindo-se aos rapazes. – Zagueiro e capitão do time
de futebol da escola. Eles não prestam.
- Parece que ninguém por aqui presta...
- Só o Chay. – sorriu torto, abraçando o
namorado enquanto ele gargalhava de alguma careta de Rod.
O sinal para os alunos voltarem às salas bateu,
fazendo com que Thur desgrudasse suas costas da parede do corredor. Era
onde sempre passava o recreio. Sozinho. Apenas com seus pensamentos.
Deu alguns passos em direção ao seu armário,
quando percebeu que o barulho de seu tênis no chão não era o único.
- Você a viu, Aguiar? – uma voz masculina
em tom de deboche manifestou-se. – Aquela garota? – olhou o menino moreno e
alto por cima dos ombros, com os olhos sérios e impacientes. – Sabe quem ela me
lembrou muito? Ah. Claro que sabe. – Thur virou-se pra frente novamente,
continuando a andar e ignorando-o. – Eu estava pensando em chamá-la pra sair.
Tenho boas esperanças sobre isso. – ouvia os passos aproximarem-se dele. –
Talvez ela saia por aí dando pra qualquer um, exatamente como a...
– apertou os dentes, segurando fortemente o rapaz pela gola da camisa, sendo
tomado pelo ódio. Os olhos deThur estavam estreitos, enquanto o outro dava um
sorriso malicioso.
- Não complete essa frase, Scott. – cuspiu o
nome. – Pro seu próprio bem.
- Senão o quê, Aguiar? O que você fará
comigo? O mesmo que fez a ela? – Arthur sentiu o sangue passar
mais quente pelas veias, tomando impulso com o braço direito e acertando-lhe um
soco no nariz. Scott saboreou a dor da pancada, e em seguida o sangue lhe
percorreu o rosto.
- Você é louco, Aguiar! – gritou, tampando
o local golpeado com ambas as mãos. As pessoas já começavam a surgir no
corredor, olhando-os curiosas. – Isso não vai ficar assim. – deu três passos
para traz, afastando-se dele. – Escreve o que eu estou te dizendo, cara. Não
vai ficar assim.
Thur arregaçou as mangas da blusa, em seguida
colocando as mãos no bolso e virando-se pra andar, inexpressivo. Os alunos no
corredor olharam-no estáticos.
- Você não vai voltar pra sala não, Sop?
– Mel perguntou, vendo Chay passar pela porta do refeitório
com Rod, mica e Luinha. As mesas já estavam praticamente vazias,
de menos as das líderes de torcida, onde apenas Sophia estava sentada.
- Só terminando de comer a salada de frutas. – colocou
uma colher cheia na boca.
- Cuidado pra não engordar, hein? Senão vai
acabar não cabendo no colant e perdendo a grande estréia dos Eagles nesse
semestre.
- Vira a boca pra lá, cruz credo. – deixou a
colher dentro da vasilha. – Até perdi a fome. – a amiga riu.
- Que dia você vai voltar a passar o intervalo
na minha mesa? – perguntou passando os braços pelos ombros da menina.
- Que dia o Borges sai de lá? – Mel
revirou os olhos, dando uma risada baixa.
- Deixa de ser besta. Ele é inocente até que
alguém prove o contrário.
- Só que tem, Melzinha, que esse aqui –
apontou pro olho esquerdo. – é irmão desse. - pro direito. – Conhece? Você
defende porque não foi você que viu.
- Ninguém te garante que eu não tenha visto... –
falou sussurrado.
- Ah, amiga. O dia que alguém realmente souber a
resposta pra isso tudo, eu vou viver feliz. – Mel mordeu de leve o lábio
inferior.
- Vocês viram isso? – Chay apontou pro
rapaz que tinha acabado de passar por eles.
- Isso o que? – mica perguntou alienado.
- Acho que vi. – Rod arqueou as
sobrancelhas.
- Aquele não era o Scott? Quero dizer... Aquele
não era o nariz do Scott...
- Ninguém mandou se meter em tretas por aí.
– Rod balançou os ombros. – Sempre com o rosto machucado.
- Outro que está louco pra se meter numa treta é
esse cara. – mica disse por entre os dentes, observando um rapaz de
cabelos grandes, castanho claro e óculos, passar ao lado deles. Ethan.
- Relaxa, dude. – Chay segurou seu ombro. –
Ele é só um idiota.
- Mas pra Sophia, o idiota sou eu...
- Senhor Aguiar. – senhora Paskin disse
repreensiva pro garoto do lado de fora da sala. Ele olhava pra baixo. – Você
agrediu o senhor Turner?
- Ele pediu por aquilo. – respondeu friamente.
- Você sabe que eu tento te
defender, Arthur. – colocou a mão em seu ombro. – Eu sei que você é um bom
garoto, mas facilite as coisas pra mim. Pare de se meter em confusão.
- Eu tento. Mas ele provocou. Ele se referiu
a ela como se ela fosse uma... – parou a frase no meio.
Senhora Paskin soltou um suspiro pesado.
- Entre na sala. Eu sei como deve estar sendo
difícil pra você. Dessa vez passa. – arrumou os óculos. Ele obedeceu.
“Precisei resolver um problema. O carro está
estacionado na esquina da biblioteca, no outro quarteirão. Vou estar te
esperando. Rod.”
‘Exatamente como o pai.’ Lua pensou,
recebendo o bilhete de mica e lendo-o no final da aula.
- E o quarteirão da biblioteca é...?
- Logo em frente, Luinha. – apontou. – É só
você atravessar essa rua.
- Ok. Obrigada. Acho que já vou indo. – segurou
a alça da mochila verde-limão no seu ombro.
- Acho que eu também... – estreitou os olhos,
olhando pra uma das mesas na grama e observando Ethan abraçar Sophia por
trás.
- Você supera. – balançou os ombros,
vendo mica dar um sorriso amarelo e descendo as escadas.
Olhou os colegas. Todos conversando animados
entre si. Outros nem tanto. Alguns lançavam um olhar curioso em sua direção,
mas isso já tinha se tornado rotina. Colocou uma mecha do cabelo pra trás da
orelha, passando os olhos pelo rapaz encostado no Audi A8, depois olhando pra
dois garotos na frente de uma picape azul.
- Hey, linda. – o mais alto deles gritou. – Não
quer dar uma volta conosco? – acelerou os passos, olhando rapidamente para os
lados. – Hey! Não finja que não escutou. Venha cá. –Lua entrou na rua com
passos apressados, vendo parte de seu cabelo entrar na frente do rosto.
Ouviu uma buzina. Perto demais.
Suas pernas amoleceram, fazendo com que ela
perdesse o ar. Olhou pro lado esquerdo, vendo um carro aproximar-se
rapidamente. Ela não teria tempo de desviar. Não teria tempo.
Soltou um gemido baixo, já prevendo sua morte.
Alguns flashes embaçados de suas memórias começaram a surgir em sua cabeça. Mas
afinal, não era isso que as pessoas viam antes de deixar o mundo? Sua vida toda
bem diante dos seus olhos?
Sua vista estava embaralhada e seus sentidos
confusos, apesar disso não a impedir setir uma forte pressão no braço... Uma
pressão forte o bastante pra arrancá-la do alcanço do veículo.
- Você está querendo morrer? É isso? – o garoto
disse alto, com desespero na voz. Luinha abriu devagar seus olhos - os
quais tinha espremido – para olhá-lo.
Thur estava ofegante, como se tivesse corrido
para salvá-la. Soltou a mão de seu braço rapidamente, como se o fato de tocá-la
o queimasse.
- O... Obrigada. – disse falha, com os lábios
trêmulos.
- Não por isso. – o rapaz respondeu secamente,
colocando as mãos dentro do bolso e analisando-a, antes de virar de costas e
seguir novamente pro Audi preto.
As pessoas em volta pararam para ver a cena e
fofocar qualquer coisa umas com as outras.
- Hey, Luinha. Desculpe. Estacionei em
lugar proibido e quase levei uma multa do car... – olhou-a entrar no carro, com
as pernas tremendo. – O que aconteceu? – disse baixo, apertando a mão no
volante. Ela tinha descoberto? Alguém tinha feito algo pra ela? Talvezaquele cara...
- Ah. Nada. – passou a mão esquerda nos cabelos
suados.
- Eu sei que não foi ‘nada’. Você precisa me
contar.
- Que eu quase fui atropelada, Rod? – fixou
seu olhar no dele.
- Atropelada? – juntou as sobrancelhas. –
Quando? Onde? Por... Quem? – sentiu a raiva passar pelo seu corpo.
- Agora, na frente da escola. Mas também... Não
foi culpa do motorista, eu entrei na rua sem olhar...
- Mas você está bem, não é? Desviou a tempo...
- Eu não desviei, na verdade. – o primo fez cara
de confuso. – Aquele cara me salvou. Aguiar. – Rod arqueou as
sobrancelhas.
- Aguiar? Arthur Aguiar? –
perguntou incrédulo, dando risadas de nervosismo.
- Eu sei que não gosta dele. Mas ele salvou a
minha vida. – colocou o cinto de segurança.
- Difícil acreditar...
Londres; Dockland; Segunda-feira; 4:03 da tarde;
- Merda. Merda. Merda. – bateu a cabeça de leve
na porta de madeira, repetidamente. O cachorro que estava em cima da cama
levantou seu olhar para observá-lo. – Merda de vida. – suspirou. – Por quê? Por
que ela tinha que aparecer? Essa garota. Por que eu tive que tocá-la? Merda.
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Sigam lá:::@MomentoLuAr
Creditos::A Lan,e adaptado por Brubs Barros de "Um Amor de Novela"
ameeeeeeeeeeeeeeeeei
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