Capítulo 4-
“Não existe
nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar
certo duas vezes por dia.”
Londres; Highgate High School; Terça-feira; 9:43 da manhã;
- Bem, classe... – ela dizia andando de um lado
pro outro na frente do quadro. – Como todos vocês sabem, hoje é o dia do sorteio
das duplas pros trabalhos desse ano. Elas já foram sorteadas por mim. Só falta
mostrá-las a vocês.
- Trabalhos desse ano? – Lua cochichou
pra Mel. – Todos? Pensei que fosse só de literatura.
- São todos. Mas o principal é o de literatura,
da senhora Paskin mesmo. – balançou os ombros. – Todo ano fazemos o trabalho
sobre um autor diferente.
- Vincent e William. – começou a pronunciar os
nomes.
- Tomara que eu saia com você. – cruzou os
dedos, fazendo a amiga sorrir.
- Também queria sair com você, mas isso é
difícil. A sala tem quarenta alunos. – fez careta.
- Droga.
- Johnatan e Avril; Evelin e Mel...
- Adeus amiga. – Melzinha deu um suspiro
derrotado. – Vou ter que fazer com a insossa da Evelin.
- Lua e... – senhora Paskin olhou-a por
cima dos óculos, dando um pigarro em seguida. Sabia como prová-los que o rapaz
não era o culpado, ou pelo menos, dar uma chance ao mesmo. Talvez uma pequena
trapaça fosse inofensiva... – Arthur.
A menina sentiu o coração descompassar olhando
em direção a porta e observando o garoto com os lábios semiabertos, que fitava
a professora como se estivesse surpreso. Fingiu não perceber que todos os
alunos da sala se entreolharam.
O rapaz virou os olhos pra ela repentinamente,
fazendo-a engolir a seco e virar-se pra mulher de roupas escuras, na frente da
turma.
Londres; Civic prateado;Terça-feira; 3:25 da
tarde;
- O QUÊ? – Rod gritou, deixando o espanto
subir-lhe a cabeça. – Você? Dupla com aquele cara? NUNCA.
- Ele salvou a minha vida, Rod. Por que não
pode acreditar que ele é uma boa pessoa? – cruzou os braços.
- Ele... Ele não é. Pode até ser que ele tenha
salvado a sua vida. Mas isso foi algo inédito. Ele não...
- Admita que você não tem argumentos.
- Ok, não tenho. Mas e daí? Eu não quero você
junto dele.
- Por que não?
- Porque não. – focou na direção. Lua
respirou fundo, tentando se acalmar. Ela era tratada como uma criança que tinha
que ficar alheia aos assuntos, afinal.
– Desculpa. Eu sei que não é justo com você.
- Que bom que sabe.
- Mas tente entender, Luinha. Eu só quero o
seu bem. – franziu o queixo. A garota segurou seu ombro.
- Então me deixe ser independente. Começando por
eu fazer dupla com ele. – o primo apertou mais sua mão no volante.
- Ok. Mas qualquer encontro de dupla será lá em
casa, e sob minha supervisão. – decretou.
Londres; Highgate High School; Quarta-feira;
11:57 da manhã;
- Cara, eu amo melancia. – Chay comentou
enchendo a boca, na hora do intervalo.
- Onde você achou melancia no cardápio? – a
namorada olhou-o interessada. As pessoas de sempre estavam à
mesa: Rod, mica, Luinha, Chay e Mel.
- Eu trouxe de casa.
- Não sabia que podia trazer comida de casa.
– Lua disse, apoiando o cotovelo na mesa.
- Não é proibido.
- Eu já contei a piada do bêbado no cemitério?
– mica perguntou.
- Estava demorando... – Rod resmungou.
Enquanto os amigos prestavam atenção na piada, a
garota passou os olhos por todas as pessoas no refeitório: A mesa das líderes
de torcida, onde a ex-namorada de mica estava sentada; a mesa dos
jogadores de futebol, onde estavam Scott e Bennet; a mesa de alguns rapazes
descolados, que estavam sentados com duas meninas com a saia curtíssima. Tudo
parecia estar em seu devido lugar. Menos uma pessoa...
- Melzinha. – chamou baixo. A menina
olhou-a. – Er... Todos os alunos não deveriam passar o intervalo no refeitório?
– Mel passou o olhar devagar por todos, virando-se novamente praLuinha.
- Ele passa o intervalo no
corredor, se é o que quer saber. – balançou os ombros, apesar de séria.
Lua endireitou o corpo na cadeira, vendo os três
amigos disputarem quem comia mais depressa.
- Ok. Chega de comer. Temos aula do senhor
Walker agora. Ele detesta que cheguem atrasados. – Mel disse puxando o
braço da garota, que ainda enchia a boca com um pedaço de torta.
- Está tão boa. – fez bico.
- Sério. Até os meninos já foram embora! Isso é
um péssimo sinal. – brincou.
- Vamos, então.
Saíram do refeitório subindo as escadas pro
terceiro andar rapidamente.
Quando estava prestes a terminá-las,
onde Mel a esperava, Luinha chocou seu ombro contra o de outra
pessoa, que descia.
- Desculpe. – disse encarando os olhos verdes do
garoto, que retribuiu o olhar com uma espécie de felicidade, espanto e horror
ao mesmo tempo.
- T-tudo bem. – juntou as sobrancelhas. – A
culpa foi... – perdeu a respiração por uns instantes. – Minha.
- Tchau, então. – deu um sorriso amarelo,
voltando a subir as escadas e parando por fim, no último andar.
- Espera! – ele gritou. – Quem é você?
- Eu? – apontou pra si mesma. A amiga alternava
o olhar dela para o menino loiro, que consentiu. – Lua Marques.
- Lua... – repetiu, com a voz baixa. – Meu
nome é Duan Adams. Prazer. – sorriu amigavelmente, depois virou seu olhar pra
garota ao lado. – Ei, Melzinha, como vai?
- Muito bem, Duan. – respondeu. –
Vamos, Luinha. O senhor Walker...
Londres; Oxford Street; Quarta-feira; 8:02 da
noite;
- Luinha do céu, você entrou em coma ou o
que? – Rod perguntou do batente da porta, fazendo a garota abrir os olhos
pesados e olhá-lo. – Está dormindo desde que voltamos da escola...
- Já vou levantar, molengo. Um segundo. –
balbuciou.
Tinha sonhado com Nick. Ela sabia que sim.
Ainda podia sentir seu toque nos sonhos, seu
cheiro, ver os detalhes do seu rosto. É, talvez ela ainda o amasse. No fundo.
Mas nada a faria desistir do sonho de ir pra Inglaterra. Nada.
Sentou-se na cama examinando o quarto. Quase do
tamanho do seu, no Brasil. O armário de carvalho, o piso de carpete.
Aconchegante.
Apoiou-se pra levantar, sentindo um ponto
dolorido no braço esquerdo: onde Aguiar tinha puxado-a, impedindo que
fosse atropelada.
Aguiar. Outra pessoa que a intrigava. Era um
garoto estranho, apesar de lindo. Aos seus olhos, e acreditava que aos de
todos, parecia ser perigoso e misterioso ao mesmo tempo. O tipo de cara que
oferece riscos. Estilo bad boy. Isso a atraía nele. Aliás, o que ele tinha que
não a atraia? Seus cabelos organizadamente bagunçados, sua pele um pouco
pálida, boca rosada e os olhos. Olhos frios de um atirador. Foscos. Sombrios.
Atraentes.
Expirou passando a mão direita de leve no braço
dolorido. Ela não o tinha agradecido devidamente. Devia sua vida a ele. Mas o
que fazer para demonstrar sua gratidão?
- Tio John? – gritou da cozinha. O senhor
assistia futebol com o filho, na sala. – Onde tem farinha?
- Farinha, Luinha? – Rod perguntou
confuso.
- No segundo armário, querida.
- Pra quê? – o primo voltou a perguntar.
- E a batedeira?
Londres; Highgate High School; Quinta-feira;
11:54 da manhã;
- Luinha, posso te fazer uma pergunta?
– Mel disse observando-a, a caminho do refeitório. A garota assentiu. – O
que tem nessa trouxa que você está carregando pra lá e pra cá desde o início
das aulas?
- Ah. Isso é... Nada. – balançou os ombros.
– Melzinha, você pode ir na frente? Estou apertada pra ir ao banheiro. –
apontou pra placa do feminino, quando passaram por ele.
- Claro, então te espero na mesa.
- Não repare se eu demorar. Eu estou nos dias.
Sabe como é. - fez careta.
- Pior é que sei. Não se preocupe. Quando eu
menstruo fico horas agonizando de cólica, eu entendo. – mandou um beijo no ar,
continuando seu caminho.
Lua acompanhou-a com os olhos até que ela
virasse o corredor, depois deu de costas e subiu novamente a escada pro
terceiro andar.
Estava escorado na parede, como sempre. Olhava o
teto como se pudesse ver alguma coisa de interessante.
“– Por que você tanto olha pra cima? – ela
perguntou, curiosa.
- Algum problema com eu olhar pra cima? – juntou as sobrancelhas. Estavam
sentados na grama do parque Russel. A garota estava encaixada entre suas
pernas, e ele afagava-lhe os braços.
- Não. Mas é uma mania esquisita.
- Mania esquisita é você ficar reparando em tudo que eu faço, Iv. – brincou,
dando-lhe um beijo na bochecha.
- Que culpa eu tenho? Eu gosto de te observar.”
Deu um sorriso leve, fechando os olhos.
Depois de um tempo apenas tentando relembrar
todos os detalhes daquela lembrança, ouviu passos aproximando-se no corredor.
Provavelmente Scott, procurando por uma nova surra. Tentou não se incomodar, e
manter-se com os olhos cerrados.
Quando chegaram ao seu lado, os passos cessaram.
Sem socos. Sem chutes. Sem provocações... Suaves demais pra ser de um zagueiro
brutamontes.
Abriu os olhos mirando seu lado esquerdo de rabo
de olho e sentindo o coração acelerar.
O que ela estava fazendo ali?
Droga.
- Bom dia. – deu um sorriso que ia de uma orelha
a outra.
Ele ficou calado, apenas mantendo-a em foco.
- Eu sei que você não costuma a ter companhia na
hora do intervalo. – encostou-se na parede ao seu lado. – Não sei se é porque
você não gosta, ou porque você tem medo de se relacionar. – ‘Medo de me
relacionar? Hunf’, pensou em deboche. – Mas de qualquer forma, se não se
importar, quero te acompanhar no intervalo de hoje. Fiz até um bolo de
chocolate pra você, em agradecimento por ter salvado minha vida. – estendeu a
trouxa azul. Ele olhou a vasilha, depois subindo para sua mão que a segurava,
seu braço, seu pescoço, até chegar ao rosto delicado.
- Não preciso disso. – respondeu seco.
O sorriso de Luinha foi se desfazendo aos
poucos, recolhendo a mão estendida e juntando-a ao peito.
- Me desculpe. – respondeu baixo e rouca. – Eu
vou embora.
Thur observou a garota virar de costas e se
afastar, passando as mãos pelos cabelos com o peito carregado. Merda.
Por que ela fazia isso com ele?
- Hey, você. – disse mais alto. – Espera. – a
menina acelerou os passos, ignorando-o. – Espera. – começou a segui-la.
Quando por fim estava perto o bastante, segurou
seu ombro. Ela virou-se a contragosto, olhando-o magoada.
- Eu não... – deu um pigarro, olhando-a nos
olhos. – Eu não quis dizer isso. Me desculpe.
Lua encarou-o. Seus olhos de atirador estavam
sinceros, apesar de receosos. Talvez ele realmente tivesse um motivo pra ser
tão fechado. Do que adiantaria ficar brava com ele?
- Tudo bem.
- P-pode... – coçou a nuca, incomodado. – Pode
passar o intervalo comigo. Se quiser...
- Vai aceitar o bolo? – arqueou uma
sobrancelha. Thur estendeu a mão pra ela, que sorriu em seguida.
- Você não vai falar nada? – Luinha
perguntou sentada no corredor, ao lado do garoto que colocava um pedaço do bolo
de chocolate na boca.
- O bolo está bom. – respondeu com a expressão
neutra.
- Mais nada?
- Não tenho nada a dizer. – um breve silêncio
instalou-se entre os dois.
- Mas eu tenho. – ela balançou os ombros. – Eu
sou brasileira, sabe. – ‘Brasileira?’– Então eu tomei um choque quando vim pra
essa escola. Não que seja muito diferente das escolas no Brasil, mas as pessoas
me olham torto. Até cheguei a pensar que fosse o jeito britânico de se olhar
pros outros, mas não. – abraçou os joelhos. – E sabe o que é o mais estranho?
–Thur olhou-a seriamente, acompanhando o raciocínio. – É que eu tenho a
impressão que tudo isso está relacionado a você...
Soltou o pedaço de bolo dentro da vasilha,
olhando para a parede a sua frente. Expirou devagar e inaudivelmente, deixando
seus braços caírem de forma que encostasse a vasilha no chão. Lua também
estava parada ao seu lado, e pareceu não ter nenhuma reação.
Ninguém tinha dito a ela. Deu uma
risada baixa e seca.
- Não te falaram nada sobre mim? – quebrou o
silêncio.
- Apenas que era pra eu ficar longe de você. –
pigarreou, vendo o menino expirar depressa com um sorriso de deboche na face e
virar o rosto pro outro lado. – Me desculpe, eu não quis dizer isso.
- E por que não obedeceu? – perguntou-a baixo.
- Porque... você salvou a minha vida. Não é uma
má pessoa. Eu acho. – juntou as sobrancelhas, olhando os joelhos.
- Ninguém te garante.
- Você não está fazendo nada ruim agora, está? –
ele riu seco.
- Você não sabe nada sobre mim.
- Que tal começar a me contar? – propôs com um
sorriso doce nos lábios.
- Tenho mais o que fazer do que falar sobre a
merda da minha vida. – levantou-se.
- Okay. – ela balançou os ombros. – Pelo menos
me diz: Qual é o nome da sua banda?
- Quê?
- Aquela que tocou no pub... No Mark’s. –
levantou o queixo para olhá-lo.
- The Lumps. – cruzou os braços, voltando a
olhar a parede.
- Nome curioso. – disse, vendo-o bufar. – Você
não é mau, Arthur. – comentou, apoiando-se nos joelhos para levantar-se. –
É apenas solitário. – Sorriu leve pra ele, antes de dar as costas e voltar pra
escada. Thur acompanhou-a com os olhos até que a mesma desaparecesse de
vista. Seu corpo estava mais quente. Era como se tivesse recuperado um pouco da
vida que lhe fora roubada. Mas a que se devia isso?
- Luinha! – o primo gritou novamente com a
boca cheia, da mesa de sempre. Chay e mica disputavam na queda de
braço, Mel ria histericamente de tudo.
Aproximou-se com um sorriso frouxo.
- Demorou. Onde você estava?
- Problemas femininos...
- Argh! Não entre em detalhes, por favor. – fez
careta, fazendo com que a prima risse.
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Creditos::A Lan,e adaptado por Brubs Barros de "Um Amor de Novela"
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