6° Capitulo
Segunda-feira, dia 2 de Novembro, 14:12, casa.
Lua
- Lua,
sua mãe ligou. – fui recebida pela péssima notícia assim que pisei meus
pézinhos cansados em casa. Clara minha madrasta, estava jogada no chão, jogando
o X-Box do meu pai e tomando uma cerveja, quando me jogou a bomba.
- Tem
certeza? – perguntei, jogando-me ao seu lado e observando-a acertar todas as
notas de alguma música desconhecida – ela estava com fones no ouvido – no
Guitar Hero. – Pode ter sido seu agente de viagens avisando que ela comprou uma
passagem só de ida pra Terra do Nunca!
-
Hum-hum. – ela negou, concentrada em seu solo de guitarra, com o controle
apoiado na montanha de pele que se concentrava em sua barriga. Ela estava
grávida – “prenha”, como meu pai gostava de brincar – de 8 meses e não podia
mais voltar ao estúdio onde trabalhava de produtora para muitas bandas legais,
como o The Kooks, e a falta de barulho e guitarras estridentes em seu ouvido a
fazia jogar Guitar Hero o dia inteiro.
- Clara
você não pode beber! – eu exclamei, pegando a sua cerveja do chão e tomando um
gole, quase cuspindo em seguida. – Sem álcool? Eca, melhor nada do que isso!
- É o
que acontece quando você resolve carregar um bebê pra cima e pra baixo dentro
das suas entranhas. – ela respondeu, sem tirar os olhos da televisão.
Fiquei
observando-a jogar para tentar prolongar ao máximo à hora de ligar para minha
mãe. Não estava preparada emocionalmente para ouvir tudo que ela tinha a dizer.
O que, basicamente, envolvia minha falta de higiene com o cabelo e coisas do
tipo.
Por
isso que Clara era ótima. Nunca me enxia o saco e sempre me apoiava. Sem contar
que tinha 39 anos, só que mentalmente tinha no máximo uns 16. Eu, sinceramente,
não sabia o que ela havia visto em meu pai. Quero dizer, ela era toda
piradinha, rock ‘n roll e feminista, enquanto meu pai era um quarentão – 46
anos pra ser mais exata – que se divertia lendo o jornal. Mas como ela mesma
sempre dizia, o amor era cego e sem capacidade de diferenciar gostos e
texturas.
Por
outro lado, eu sabia exatamente o que meu pai havia visto nela. Além dos seus
olhos azuis e seu cabelo negro como a noite e lisos como alguma coisa bem lisa
– não consegui pensar em nada legal e liso porque estou com inveja demais do
seu cabelo para encontrar adjetivos para ele –, ela fazia meu pai o cara mais
feliz do mundo.
Meus
pais haviam se casado muito cedo, porque minha mãe engravidou com 18 anos…
Então, com 20 anos, lá estava meu pai, se responsabilizando por seus atos. Era
de se esperar que o casamento não duraria muito, os dois eram muito novos e
imaturos… Então, cinco anos depois, os dois assinaram os papéis do divórcio.
Papai ficou arrasado. Eu era muito criança para entender, só sabia que algo
estava errado.
Fui
morar uns dois anos com minha mãe, mas quando ela se casou com Luciano, meu
padrasto, pedi ao juíz para morar com meu pai. Mesmo com 7 anos eu entendia que
ele precisava de mim e entendia que não poderia viver mais um dia naquela casa
cheia de gente mesquinha. E, claro, minha inteligência além-de-pessoas-normais
me ajudou a perceber isso. Então ficamos só nós dois por mais 5 anos. Ele
melhorava aos poucos, mas eu me lembro de vê-lo chorar em seu quarto no começo.
Ele ainda amava minha mãe quando os dois se separaram, mas ela estava ocupada
demais tendo filhos idiotas com seu marido mais idiota ainda pra perceber isso.
Então,
num fatídico dia – mais precisamente no meu aniversário de 12 anos –, ele
conheceu Clara. Nós – eu, ele, Rayanna, Sophia e Mel – estávamos comemorando no
Hard Rock Cafe quando os dois se trombaram. E meu pai só saiu da lá com o seu
telefone anotado na mão. Seis meses mais tarde ela veio morar com a gente, e
dois anos depois eles se casaram, e eu posso dizer, com sinceridade, que a
única vez que eu me senti desconfortável com aquele relacionamente foi quando
tive que usar um vestido horrendo de dama com o aspecto de um saco de batatas.
Laranja.
Fora
isso, ver meu pai mais feliz do que jamais vira era maravilhoso. E poder ter
uma mulher em casa também. Não para conversar sobre roupas e coisas fúteis, mas
para poder conversar sobre coisas que só mulheres entendiam, como… Bom, não
consigo me lembrar de nada agora.
Só sei
que Clara era ótima.
E papai
sabia disso.
- Bom,
hora de lavar o rinoceronte! – Clara exclamou, referindo-se ao fato de ela
estar indo tomar banho. Olhei no relógio, e já haviam se passado duas horas
desde que eu chegara ali. – Me dá uma ajuda, Lu?
Levantei-me
e a puxei. Mais alguns dias e ela só levantariam dali com um guindaste. Ela
estava enorme e seus pés inchados, e não havia nada de beleza de mulher grávida
nela. Só mau-humor e comida sempre faltando em casa.
Ela
comia tudo.
Fomos
juntas pela escada e ela entrou em seu quarto. Dei mais alguns passos e entrei
no meu. Joguei-me na minha cama, pegando meu telefone de Mestre Yoda e disquei
o temido número. Ele tocou algumas vezes e caiu na secretária eletrônica.
- Alô,
mãe? É a Lua, sua filha… Mas é claro que você sabe que é sua filha, você só tem
uma… – eu sempre me sentia estúpida deixando aquelas mensagens. Secretária
idiota. – Então, estou ligado pra…
- Lua?
– ouvi a voz sonolenta de Luciano do outro lado.
- Oi. –
respondi, trocando o telefone de orelha. – Minha mãe tá aí?
- Sim,
só um minuto. – “Adrianaaaaaaaaaaaaaaa? Sua filha!” ouvi ele berrar, e afastei
um pouco o telefone da orelha. Dois segundos depois, ela estava na linha.
- Pode
desligar, Luciano– ela ordenou, e ele obedeceu, como um cachorrinho
domesticado. – Lua, finalmente!
- Oi,
mãe. – eu disse, roendo as unhas, porque subconscientemente eu sabia que ela
odiava que eu roesse as unhas. – Me ligou?
- Sim,
te liguei… Sua madrasta não te avisou? – ela perguntou. Ela nunca dizia o nome
de Calara. Era só “sua madrasta” ou “ela”. Nunca Clara.
- Sim,
se não tivesse me avisado eu não estaria ligando. – respondi, tentando não ser
muito irônica. Ela odiava ironias. Mais do que unhas roídas.
- Só
liguei para perguntar se está tudo pronto para minha visita. – ela disse. –
Você não espera que eu vá dormir em um hotel, espera?
- Não,
mamãe, não espero. – suspirei, repentinamente cansada. – Está tudo pronto.
Quarto de hóspedes limpo e toda essas frescuras.
-
Ótimo. Então podemos conversar sobre outras coisinhas. – ela disse, e eu
apertei o telefone contra o ouvido. – Você andou fazendo o que eu te pedi pra
fazer?
Bom,
depende do que ela queria dizer com “andou fazendo”. Andei pensando em fazer,
mas fazer mesmo, não.
Mas é
claro que eu não disse isso em voz alta.
Eu
ainda queria ganhar meu carro.
- Sim,
mais ou menos… Você sabe que não é a coisa mais fácil do mundo arranjar um
namorado, não é, mãe? Ainda mais quando não se é loira e peituda. – olhei para
baixo. Meus peitos eram normais, nem grandes nem pequenos, mas estavam – e
quase sempre ficavam – devidamente escondidos embaixo do meu blusão da Hurley.
- Eu já
disse que você ficaria linda loira, você que não quer me ouvir… – ela suspirou.
– Mas trate logo de arrumar um, não quero passar a vergonha de ter que explicar
às minhas amigas que minha filha de quase 18 anos nunca teve um namorado!
- Sim,
mãe…
- E
faça alguma coisa com esse cabelo, Lua! Ontem eu entrei na sua página do
MySpace pra ver suas fotos e vi que você continua com esse frizz ai noseu lindo
cabelinho ! Por favor, isso não parece um cabelo, é sim um pedaço de
tecido costurado na sua cabeça!
- Sim,
mãe…
- Agora
eu preciso ir, Caio tem jogo de futebol e eu preciso levá-lo.
- Sim,
mãe…
-
Beijos, e não se esqueça de arranjar um namorado até no máximo esse fim de
semana pra você poder levá-lo no baile de inverno, daqui 16 dias. Se não, adeus
carro novo!
- Sim,
mãe.
Então
ela desligou.
O que eu iria fazer???
Comentem..Adoro comentarios
Seguem lá:::@MomentoLuAr
Creditos:::Pra Bruna e adaptado por Celly!!!
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