Capítulo 7 -
Londres; Oxford Street; Quarta-feira; 6:47 da tarde;
- Você só pode estar de brincadeira. – Lua disse dando uma risada
histérica, ao ver uma foto no facebook de Mel. – Rod, isso é
brincadeira, não é?
Ambos estavam no aconchegante quarto de estudos da casa e olhavam com
perplexidade a tela do computador. Rod estava sentado na cadeira
enquanto Luinha impulsionava o corpo um pouco para frente, numa tentativa
de enxergar melhor. Seu coração estava mais acelerado e garoto em um clima
receoso um tanto mórbido.
- Bem que eu queria que fosse. – o primo suspirou pesadamente.
Na imagem estavam três garotas abraçadas com pompons e uniformes azuis de
torcida. Estavam paradas em frente ao ginásio da Highgate e seus rostos se
iluminavam pelo sol esbranquiçado do verão londrino. A primeira, Mel,
estava como se estivesse gargalhando de alguma coisa. A segunda: Sophia.
Essa saiu falando, apesar disso, tinha conseguido ficar bonita. A última
era... Lua? O que ela estava fazendo ali?
- Essa sou eu, Rod. – apontou. – Com o cabelo mais claro, lógico. Mas nada
que um photoshop não crie.
- Aí que está a questão, Luinha . – virou seu rosto pra ela, pesaroso. –
Essa não é você.
- Deus. – caiu sentada na cadeira de balanço, levando a mão à boca. Como era
possível que existisse alguém tão parecida? – E onde está essa garota? Ela se
mudou?
- Chegamos à parte dura da história. – ele deu um pigarro, olhando-a
seriamente. Lua arqueou as sobrancelhas percebendo o tom extremamente
grave que o rapaz usava.Rodrigo permanecia com os olhos inseguros. Depois de um
breve momento, respirou fundo e pronunciou baixo a frase. – Ela foi assassinada.
Ano passado.
Lua engoliu a seco, olhando novamente a imagem no computador. Leu atentamente a
legenda escrita por Mel, com um aperto no peito:
“Sempre em nossos corações...”
Londres; Highgate High School; Quinta-feira; 4:37 da tarde;
- Uf. – a garota de cabelos longos e escuros expirou, ofegante, dirigindo-se
para o bebedouro atrás do ginásio à passos largos.
Diferentemente dos outros dias, aquele estava mais quente e
ensolarado. Lua vestia o uniforme da educação física da Highgate: um
mini-short de lycra preto e uma blusa larga.
Mal a educação física tinha começado e já estava inteiramente suada, o que era
de se esperar já que a modalidade era corrida.
Virou levemente à direita quando chegou ao final do edifício, dando de cara
com Thur utilizando o bebedouro.
- Oi. – disse aproximando-se com um sorriso simpático nos lábios. Ele vestia
uma calça e blusa larga, ambas brancas, que tinham o desenho de uma águia azul:
Eagles.
Arthur virou seus olhos foscos pros tênis brancos da garota, subindo para suas
canelas finas, pernas, coxas, quadril, barriga, ombros, até por fim, chegar ao
seu rosto.
- Não sabia que era do time de futebol. – ela abraçou os braços por trás do
corpo. Ele permaneceu calado, encarando-a. – Poxa vida, Aguiar. –
irritou-se. - Claro que você não tem a obrigação de gostar de mim, mas pelo
menos seja educado e responda alguma coisa que eu falo!
- Oi. – ele respondeu secamente, afastando-se do bebedouro. Lua bufou.
O rapaz continuou fitando-a com curiosidade e falsa indiferença.
- Ainda vai hoje, certo? – perguntou mal humorada, vendo-o virar de costas e se
afastar. Aproximou-se ainda mais do bebedouro.
- Sobre isso. – olhou-a por cima dos ombros, estreitando um pouco mais os olhos
de atirador. – Como vai embora?
- Quê? – Luinha disse apertando um botão, fazendo com que a água saísse da
máquina. – Eu vou pegar um táxi, oras. – ele deu um sorriso amarelo com a
resposta.
- Audi preto. Depois do treino. Não se atrase. – pronunciou pausadamente. Virou
a cabeça pra frente e continuou a andar, indo em direção à quadra de futebol.
Luinha deixou os lábios se abrirem devagar, surpresa. Impressão dela ou o
garoto tinha acabado de lhe oferecer uma carona?
Lua apoiou o pé em um banco, amarrando rapidamente o tênis no final do treino.
Pegou seus pertences e seguiu em direção ao estacionamento da escola, fazendo o
máximo pra não se atrasar.
Passou os olhos devagar por todos os carros, procurando ainda insegura pelo
veículo preto. Depois de um momento, avistou o Audi estacionado e Arthur
de braços cruzados e o joelho dobrado, encostado ao mesmo. O garoto estava com
os cabelos suados e as bochechas mais rosadas, graças ao cansaço. Abaixou o
queixo e observou-a se aproximar, como um predador quando avista a presa.
- Estou custando a acreditar que você vá mesmo me dar uma carona. - ela riu
leve, deixando-o sem graça.
- Aproveite que hoje estou de bom humor. - Thur resmungou.
- Wow, sério? - Luinha disse em tom de brincadeira, enquanto o rapaz
destravava o carro e abria a porta pra ela. - Imagina quando você acorda com o
pé esquerdo, então. - deu uma risada baixa.
- Olha lá o que eu estou vendo, Bennet. – Scott disse olhando pelo retrovisor
da picape estacionada na garagem da escola. – Veja se não é o Aguiar com a
sua nova namoradinha. - fez uma pausa, analisando melhor o casal. - Coitada. –
sorriu maliciosamente. O amigo fez o mesmo.
Lua tinha ficado impressionada com o fato dele resolver lhe dar uma carona. Ainda
mais de ter aberto a porta pra ela.
O carro por dentro também era uma coisa que a impressionava – como se por fora
já não fosse o bastante. Estavam sentados havia já algum tempo sem conversar,
enquanto Arthur dirigia para a casa branca da Oxford Street. Ela tinha
passado o endereço. Era lá onde fariam o trabalho, sob o olhar cuidadoso
de Rod.
A menina olhou o semblante sério do companheiro, ficando incomodada com o
silêncio estabelecido entre os dois.
- Pode ligar o rádio? – Luinha perguntou repentinamente. Thur sentiu
um calor passar por seu corpo, ouvindo a sua voz. Consentiu sem pensar muito.
A última coisa que ele queria era pensar naquele momento. Se
pensasse, comparaçõesseriam inevitáveis, e a conclusão óbvia de que
não eram a mesma pessoa também.
Lua ouviu o som da orquestra vinda do rádio, seguida pela voz do tenor.
Estranhou a escolha musical, contendo um sorriso.
- Andrea Bocelli? – juntou as sobrancelhas. – Você gosta?
Aguiar ficou alguns segundos em silêncio, depois respirou fundo para responder.
- As músicas passam sentimentos. – disse sem desviar o olhar da direção. -
Gosto dos sentimentos transmitidos pelas músicas dele.
- Isso mostra que você é uma pessoa sensível. - ela sorriu.
- Claro que não. - Thur bufou, fazendo-a sorrir ainda mais.
Londres; Wimbledon; Quinta-feira; 5:23 da tarde;
- A senhorita tem certeza disso, Mel? – o médico perguntou-a sério.
Estavam em seu consultório branco, com cadeiras em tons claros de azul. O
médico estava sentado do outro lado da mesa de madeira, de frente para o casal.
- Sim, senhor. Eu ando tendo uns flashbacks esses dias e não sei por quê.
– Melzinha colocou as mãos entre as pernas, nervosa. Chay observou
seu ato, sentado na cadeira ao lado.
- Talvez alguma coisa tenha forçado essas memórias. Algum lugar, ou alguém... –
o homem coçou o queixo, analisando-a através dos óculos finos que o davam maior
ar profissional.
- Mas os dois foram em momentos tão distintos que eu não saberia dizer... - a
garota disse confusa, consultando o namorado com o olhar. Esse apresentava a
mesma expressão desentendida.
Londres; Oxford Street; Quinta-feira; 5:24 da tarde;
- Ok, Rod. – Lua disse batendo as mãos na mesinha da sala da casa.
Ela e Thur estavam sentados no chão, de costas para o sofá azul. – O que
você quer? Já é a terceira vez que passa aqui.
Estavam há algum tempo mergulhados em livros para escrever sua própria versão
da biografia de Shakespeare, mas mal tinham concluído a primeira linha. Ambos
se sentiam desconfortáveis perto do outro e mais desconfortáveis ainda por
chegarem a essa conclusão. Ela o inspirava medo e ele a inspirava curiosidade.
Em contra partida, a única coisa que aquela situação inspirava à Rod era
ansiedade. Ansiedade para ver o visitante longe dali.
- Nada. Só pra ver se está indo tudo bem. – lançou um olhar pouco amigável pro
outro rapaz.
- Está tudo bem, agora com licença. Você está nos distraindo. – Luinha
disse o óbvio. O primo deu uma nova olhada no garoto, antes de se virar de
costas e subir as escadas. – Me desculpe por isso. Rod é do tipo
“super-protetor”. – bufou, apoiando novamente os cotovelos nos cadernos.
Thur observou de soslaio o aspecto irritado da menina.
- Ele está certo, se quer saber. - falou inflexível.
- Não está. – olhou-o como se estivesse ofendida. – mica contou que você
ofereceu seu carro por ele... Foi muito gentil de sua parte.
- Isso não quer dizer nada sobre mim.
- Mais do que você imagina. – o celular do garoto tocou assim que ela terminou
a frase. Ela o observou curiosa.
- Com licença. – disse pra garota, tirando o aparelho do bolso e colocando no
ouvido. – Alô?
- Dude, como assim você pega a Brittany de jeito e depois dispensa? – o loiro
falou do outro lado da linha. Lua arqueou as sobrancelhas, como se tivesse
ouvido o conteúdo da conversa. Thur se incomodou com isso.
- Ela me dá dor de cabeça. – sussurrou de volta.
- Que papo de mulher na TPM. - o outro retrucou.
- Sério, Duan, não posso falar agora. Me liga depois, ok? Tchau. – desligou o
telefone sem cerimônias.
- Duan? – Luinha perguntou confusa. – Não sabia que eram amigos. - voltou
a rabiscar o canto da folha, fingindo desinteresse.
- Melhores amigos desde a infância. – respondeu balançando os ombros de leve. –
Onde estávamos? - procurou mudar de assunto.
- No título. – ela suspirou, ainda que sorrisse fraco.
- Sinto muito. Não sou bom com biografias.
- Biografias são chatas mesmo. Vai melhorar quando chegarmos às obras. – apoiou
o queixo na mão, incomodada. Ficaram alguns segundos em silêncio... Tempo o
bastante para ela ponderar sobre um assunto. – Quem é Brittany? – perguntou de
repente, fazendo o coração do garoto acelerar. – É sua namorada?
Arthur respirou fundo, logo substituindo sua expressão de surpresa pela mais
séria de sempre.
- Você ouviu. – ele concluiu, comprimindo os lábios.
- Duan fala alto demais. – Lua riu baixo, apesar de não ver humor.
- A Britanny é ninguém. – respondeu, ressaltando a última palavra.
- Só mais uma dor de cabeça? – Luinha perguntou, fazendo-o virar os olhos
frios em sua direção. Ela pensou um pouco. – Eu sou uma dor de cabeça, Arthur?
– ‘A maior das dores de cabeça.’ Ele pensou, apesar de não
exteriorizar.
A garota esperou pela resposta o fitando nos olhos. Depois de um breve
silêncio, compreendeu confirmação e sentiu um aperto no peito, como uma
angústia desnecessária. Sentiu-se tola por isso.
- Vamos continuar o trabalho. - ele decretou, desconfortável.
Londres; Mark’s; Quinta-feira; 7:03 da noite;
- Uma cerveja aí, Bob. – mica disse chegando ao balcão.
Como era de costume, o Mark’s estava cheio. Cheio de pessoas bêbadas que se
animavam à toa com qualquer coisa. Micael precisava daquela folga.
Precisava molhar a garganta.
Passou os olhos lentamente por todos, já recebendo a garrafinha aberta e
bebendo-a no bico. Pessoas desconhecidas, punks, hippies, alguns boyzinhos da
Highgate no fundo.‘Boyzinhos do time de natação’, cuspiu com o
pensamento. Seus olhos passaram por cada um deles, arregalando-se por fim, no
que estava mais no canto. Deixou o queixo cair. ‘A oportunidade enfim,
tinha chegado.’
Londres; Greenwich; Quinta-feira; 7:08 da noite;
- Droga. – Sophia disse irritada, sentada em sua cama.
- Algum problema, Sop? – Mel perguntou sentando-se na cama ao lado,
com um pijama curto. – Chay acabou de ir embora.
- Ethan não atende ao telefone.
- Relaxa. Ele sempre se esquece de atender ao telefone. Você sabe disso.
- Eu sei, mas eu...
- O que foi? É urgente? – colocou os cabelos para trás da orelha, analisando a
amiga em seu pijama amarelo.
- Não. Eu só queria saber onde ele está. – balançou os ombros. – Eu queria que
ele atendesse prontamente quando eu o chamo...
- Como o mica fazia? – Mel arqueou uma sobrancelha, sugestiva.
- Chega de mica, Melzinha. – disse impaciente. – Vamos pra cozinha,
quero tomar um iogurte.
- Cuidado, hein? Vai virar uma bola. – levantou-se juntamente com ela. – Ah, e
se quiser o de morango, eu já tomei.
- Olha quem fala! – a menina riu, antes de sair do quarto.
Londres; Oxford Street; Quinta-feira; 7:11 da noite;
Após algum tempo concentrados no trabalho e por fim, tendo êxito na
biografia, Arthur achou que seria melhor que fosse embora. Ainda mais com
a frieza repentina da parceira... O que tinha dado nela? Perguntava-se
insistentemente, sem cogitar um motivo consistente.
Afinal... Por que mesmo ele se importava? Era outra questão sem resposta.
- Então acho que é isso aí. – Thur disse se colocando para fora da porta,
assim que Lua a abriu para ele.
- É. – disse inexpressiva, encostando-se no batente.
- Obrigado pelo lanche. – parou de frente pra garota, analisando-a novamente à
procura de qualquer sinal sobre o motivo de sua irritação.
- De nada. – encarava-o séria. Ele ficou parado, sem saber o que interpretar
disso.
- Eu... Já vou indo. – não era a hora dela falar alguma coisa sem sentido e dar
um sorriso encantador?
- Tchau.
- Até amanhã, então. - sentia-se extremamente ferido pela sua indiferença.
- Até. - ela falou impaciente.
- Boa noite.
- Arthur, você vai ou não? – Luinha arqueou uma das sobrancelhas.
- Não... Er... Vou. – colocou as mãos nos bolsos. – Pode me chamar
de Thur. – suspirou, olhando pra baixo.
'Pode me chamar de Thur? Porra, Aguiar! Você pode fazer melhor! Pensou
consigo mesmo.
- Ok, Thur. Boa noite. - ela disse dando o melhor sorriso que conseguia,
observando o rapaz enfim dar de costas em direção ao carro. Mas tudo bem,
afinal, ela era só mais uma dor de cabeça, certo?
Londres; Dockland; Quinta-feira; 11:31 da noite;
-“Deixe vir o que me aguarda.” William Shakespeare. – Thur disse colocando
o livro no peito e dando um longo suspiro enquanto mirava o teto. – E o que me
aguarda, Spike? – o cachorro o olhou desentendido, depois bocejou.
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Creditos::A Lan,e adaptado por Brubs Barros de "Um Amor de Novela"
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