.. Opera Capítulo 9 -
" O essencial é invisível aos olhos; só se vê bem com o coração !"
Saint Exupéry
Londres; Oxford Street; Sábado; 7:17 da noite;
“Ei, Nick.
Você
deve estar estranhando minha demora pra lhe escrever alguma coisa. A
verdade é que eu não sabia exatamente o que escrever. Agora eu sei...
Se
há alguma coisa que mexeu comigo e que eu aprendi vindo pra Inglaterra é
que você deve cuidar muito bem do seu amor... Antes que ele escape por
entre seus dedos ou se vá para sempre. É uma lição bonita, não? Pra quem
ainda tem tempo de aplicá-la... Eu, felizmente, tenho.
Hoje
mesmo estava lembrando de você. Não que eu já não faça isso
frequentemente, mas hoje foi especial. Era como se você estivesse
aqui... Fiquei com saudades. Queria te ver...
Bem, acho que já tenho que ir. Rod e o tio estão me chamando na cozinha.
Espero notícias e... Nick...
Nunca se esqueça que eu te amo,
Luinha.”
A
garota desligou o computador, passando os dedos entre os cabelos lisos e
suspirando. Estava sentada à cama, onde tinha passado um bom tempo
pensando nas palavras de Thur:“Somos separados por um abismo muito maior
que o oceano”.
O namorado estava no Brasil. Ainda pensava nele antes de dormir, e era uma figura que sempre aparecia em seus sonhos.
Não
podia dizer com toda certeza que o amava, afinal, o que era o amor? Mas
com certeza ele era alguém que significava algo especial pra ela. A
quem ela tinha um carinho imenso.
Calçou os chinelos e desceu as escadas para a cozinha, assim que tio John gritou por ela novamente.
Londres; Dockland; Sábado; 7:23 da noite;
“Você
em seu mundo, separado do meu por um abismo. Ouça, me chame e eu voarei
para seu o mundo distante.” Estava sentado a frente da vidraça, com o
cachorro Spike.
A voz de Lua ecoava por sua cabeça,
traduzindo uma música que tinha um significado tão peculiar pra ele.
‘Voarei para o seu mundo distante.’ Pensou, fechando os olhos e se
perdendo em lembranças.
“- Hey, qual é. Pare
de se fazer de difícil. – disse dando um sorriso tarado, seguindo-a em
direção aos fundos do ginásio. Era após um jogo de campeonato de futebol
dos Eagles. Estava completamente escuro.
A garota vestia o
uniforme azul e branco de torcida da escola: colado e curto. Esboçava
um sorriso maroto, fazendo sinal com o dedo para que ele a acompanhasse.
- Nem vem, Aguiar. Você acha que tem alguma chance comigo? – deu uma gargalhada alta. – Sou demais pro seu caminhãozinho.
O
garoto viu-a escorar na parede, postando-se a sua frente. Estavam
sozinhos ali, e os únicos sons que preenchiam o local, fora a voz dos
dois, era da música do campo, bem longe de onde estavam.
- É
isso o que vamos ver. – Thur espalmou as mãos em sua cintura, juntando
seus lábios. Sentia a garota sorrir enquanto suas línguas se tocavam
rapidamente.”
- Acabou, amigão. – observava as
luzes de Londres. A vidraça era como um grande espelho que ocupava uma
parede inteira. Olhou os carros passando andares a baixo... Muito a
baixo. Teve um pensamento que fez o coração acelerar. É... Talvez fosse o
que devesse fazer.
“- Você não sabe nada sobre mim.
- Que tal começar a me contar? – ela deu um sorriso doce”
‘Essa garota...’ Sorriu sombriamente, passando as mãos pelos pêlos dourados do cachorro.
-
Tudo é negro para minha vista se você não está comigo, aqui. – traduziu
outra parte que lembrava da música, cerrando os olhos antes que
começassem a arder.
O cômodo ficou em silêncio durante um largo momento, até que uma voz conhecida e esganiçada rompesse por seus ouvidos.
- Mar-ga-ri-da! – ouviu pancadas na porta do apartamento. – Trouxe pizza pra gente comer. Vai abrir ou não?
Levantou-se amargamente, dando passos pesados naquela direção.
-
Às vezes você é um pouco irritante demais, Duan. – disse abrindo a
porta e já vendo o rapaz entrar à vontade. Thur estava sem camisa, com
uma calça de pijama longa e cinza.
- Pizza de peperoni. Sua
favorita, não? – o loiro colocou a caixa com a pizza em cima de uma
bancada de mármore improvisada na “cozinha”. – Você está um pouco pra
baixo, achei melhor eu, em toda minha gostosura, vir aqui te animar.
- Hm. – respondeu desinteressado, sentando-se, assim como o amigo, em um dos bancos em frente à bancada.
-
Olha que delícia. Ardidinha. – Duan abriu o pacote, deixando o cheiro
se espalhar pelo ambiente e o cachorro inflar as narinas com o aroma.
Esse
pegou um pedaço sem cerimônias e encheu a boca com o mesmo, sorrindo
satisfeito.Arthur, enquanto isso, se lembrava de um pequeno momento
vivido na escola, e não hestiou em perguntar sem mais nem menos:
- De onde você a conhece? – apoiou o cotovelo na bancada.
- Quem? - Duan perguntou com a boca cheia, pensando se tinha perdido parte do assunto.
- Lua.
- Ah. Ela é amiga da Mel. – balançou os ombros. Thur sentiu o coração bombear calor pro resto do corpo.
- Só isso? - arqueou uma das sobrancelhas, estranhando sua própria curiosidade.
- Ela é muito gata. – o loiro voltou a dar uma mordida cheia na fatia. – Por quê? Está interessado? Senão é toda sua...
- Não. Pode ficar se quiser. – respondeu friamente.
O
amigo estava com a bochecha cheia, analisando-o e medindo a verdade em
suas palavras. Como não viu hesitação, apenas ignorou e continuou com
seu lanche.
Londres; Highgate High School; Segunda-feira; 10:30 da manhã;
Estava
na hora da troca de horários na Highgate High School. Os alunos foram
para os corredores em direção a seus armários, para trocar seus livros e
mudar de sala.
- Borges! – o rapaz ouviu Sophia gritar,
acelerando ainda mais os passos para longe dela. –Borges! – sua voz
estava furiosa, assim como sua mão, que lhe agarrou o braço forçando-o a
se virar pra ela.
A garota olhou com um misto de nojo, pena e raiva para o corte na sobrancelha do menino.
-
Ethan me contou o que aconteceu... COMO ASSIM você se atreve a bater no
meu namorado? Sem mais nem menos? – colocou as duas mãos na cintura. –
Você bebe?
- Bebo. – mica disse tão irritado quanto. – Mas ele mereceu. E aposto também que o namoradinho não contou a história inteira...
- Que história inteira? – Sop franziu o nariz, com a voz já estridente.
-
Olha isso antes de falar alguma coisa. Se você é tão boa, já devia ter
suspeitado. – Micael disse alto, tirando do bolso o celular e mostrando
para a garota uma foto: Ethan agarrando-se com outra no canto do pub. –
Se quiser, pode conferir a data. Tirei porque depois não ia ter como
provar.
- Isso é... – a voz dela falhou. Seus olhos ficaram quentes e marejados.
-
Você é uma corna, e eu só te fiz um favor. – mica expirou mais devagar,
esperando alguma reação dela como um beijo, ou no mínimo um "obrigada",
que acabou por sair completamente contrária. Sophia meteu-lhe um tapa
no rosto.
- Corna duas vezes, então. – disse com a voz embargada pelo choro e saindo de perto dele com passos acelerados.
-
Lindo quinteto de dedos na sua bochecha, mica. – Rod comentou na hora
do intervalo, fazendo Chay gargalhar. Mel e Lua estavam na fila da
cantina.
- Ela não acredita em mim. – resmungou.
- Eu também não acreditaria. – Chay manifestou-se. – Dadas as circunstâncias...
- Estou dizendo, dude. Armaram pra mim. Eu não fiz aquilo!
-
Ok, mica. – Rod fez cara de tédio. – Vamos supor que você não tenha
bebido e feito aquilo sem pensar. Quem teria armado pra você e com que
propósito?
- Eu não bebi. – o garoto expirou impaciente. –
Primeiro porque mesmo estando bêbado eu tenho consciência dos meus
atos... Ou pelo menos me lembro deles... E segundo porque no dia
seguinte nem de ressaca eu estava.
- Tudo bem, gênio. – Chay encheu a boca de batatas fritas. – Quem armou pra você, então?
- Kimberly. – disse o nome com raiva.
- Por que ela teria feito isso?
-
Porque... Ela. Gosta. De mim. Oras! – falou soletrado, fazendo com que
os amigos o encarassem durante um tempo, depois caindo na gargalhada.
- Custamos a acreditar que a Sophia caiu na sua laia, dude. Kimberly já é demais. – Marques colocou a mão no abdômen.
- Luinha... – Mel disse segurando o braço da garota enquanto estavam na fila, fazendo-a a encarar. – Preciso conversar com você.
- Diga.
- Eu... – media palavras. – Meio que... Preciso da sua ajuda.
-
Estou a sua disposição. – a outra deu um sorriso meigo. – Em quê
precisa? Literatura? História? Problemas amorosos com Chay? – brincou,
fazendo a amiga rolar os olhos. Depois de algum tempo em silêncio, o
semblante de Mel se alterou completamente, do brincalhão para o sério.
- É um assunto... Grave. – abaixou o tom de voz.
- Ok, você está começando a me preocupar... – O que poderia ser?
-
“É uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos.” – Thur
disse sentado ao lado de Lua, na aula de literatura. Suas cadeiras
estavam juntas e eles tinham conseguido manter uma conversa agradável
sobre o trabalho, até então. – Gosto de Shakespeare.
- Eu
também. – a garota apoiou o cotovelo na mesa e o rosto na mão. – Era uma
pessoa que sabia o que dizia... – um breve silêncio se instalou entre
os dois.
Lua relembrou os dias anteriores, pensando no
quanto tinha se sentido bem ao receber a carona de Arthur. O quanto
tinha se sentido aconchegada ao seu lado. O quanto tinha se sentido
estranha ao ouvi-lo pronunciar certas palavras...
- Thur?
- Hm?
- Qual é o abismo? – perguntou simplesmente, fazendo o rapaz olhá-la de rabo de olho.
Ele
estava como sempre: cabelos bagunçados, bochechas levemente rosadas,
mangas da blusa social arregaçadas, olhos duros. Frios, foscos. Pareciam
guardar algum mistério, segredo...
Arthur sempre fora um
dos “queridinhos” das meninas, apesar de que agora, maioria delas - pelo
menos as prudentes - resolvia ficar longe dele. Não entendia Lua. Não
entendia a curiosidade da garota por sua vida. Não entendia seu sorriso
sempre meigo, apesar de tratá-la com frieza. E o que menos entendia era
sua atração quase magnética por ela... Por que ela?
Ficou
em silêncio, obviamente deixando claro que se sentiria desconfortável
respondendo aquela pergunta. Oh, desconfortável era eufemismo...
-
É a vida e a morte, Arthur? – perguntou pesarosa. O garoto sentiu o
coração descompassar, apenas tendo uma reação: virar seu olhar pra
frente. Lua soltou um suspiro pesado ao vê-lo fazer isso.
As
garotas estavam sentadas na grama perto do ginásio, matando o quarto
horário. Kimberly fixava o vazio enquanto Brittany acendia o isqueiro e
dava uma tragada no cigarro em seus dedos.
- Merda. – a
primeira balbuciou, tacando uma pedrinha a metros de distância. – Tomara
que aquele cara nunca nos procure de novo.
- Ele não vai, Kim. – a loira revirou os olhos, como se fosse óbvio. – Ele tem tanto a perder quanto nós.
- Por que mesmo nos metemos nessa merda de situação?
- Os fins justificam os meios. – soltou a fumaça.
-
Você ainda acha que o Aguiar vai te querer depois de tudo? – perguntou
quase inocentemente, fazendo a amiga tirar as costas da parede para
encará-la.
- Óbvio que vai! Ele não sabe de nada... Nem vai ficar sabendo. – respondeu nervosa. – Ele é meu, Kimberly.
- Quem me dera saber como é amar alguém... – Kimberly deu uma risada abafada.
A morena deu uma olhada no local tendo uma lembrança: talvez o início de tudo aquilo...
“- Olha lá, Brit! – falou boquiaberta, chegando cautelosa atrás do ginásio.
- Não acredito. – a amiga deu uma risada de deboche. O céu já estava negro. – Ele com a... Iv?
As
duas observavam um casal que se beijava intensamente e que vez ou outra
deixavam as mãos percorrerem livremente o corpo do outro.
- Vaca. – a loira rosnou por entre os dentes, observando o garoto puxar a blusa da menina pra cima.
- Wow! As coisas estão esquentando por aqui... – Kimberly deu uma risada pervertida. – Vamos embora, Brittany.
- Coitada da Iv, se ela acha que vai ficar por isso mesmo. – murmurou, antes de virar as costas e se afastar.”
A sala de aula estava uma paz aquela hora...
-
Okay, Mel. Desembucha antes que o Rod pire com a minha demora. – Lua
cruzou os braços ao se sentar do lado da amiga, no fim do horário.
Mel
prendeu os cabelos longos em um coque, sentindo um suor gelado brotar
em seu pescoço. Talvez não fosse tarefa dela tratar desse tipo de
assunto com a menina, mas ela precisava saber o que queria... E seria
com a ajuda dela.
- Luinha... Você já ouviu falar... –
pigarreou. – De Ivane Whinsky? – falou um pouco mais baixo, vendo que
algumas pessoas ainda estavam na sala.
Lua encarou-a durante um largo momento, depois deu um suspiro pesado e respondeu:
- Já. – Mel expirou rapidamente, aliviada ao saber que não seria a primeira a tocar naquele assunto.
- O que, exatamente, você sabe sobre ela?
-
Não muito. – Luinha olhou-a preocupada, depois deixou seu olhar cair. –
Ela era sua amiga e da ex-namorada do mica. Foi assassinada ano passado
e se parecia muito comigo... Só.
- Você é a cara dela. – a garota deu ênfase.
- Não entendo o que eu possa te ajudar com relação a isso... – Luinha estava confusa.
-
Você... – Melzinha analisou a última pessoa que saia da sala,
deixando-as sozinhas. – Tem idéia de como ela morreu? – Lua balançou a
cabeça para os dois lados, em negação. – Ela levou um tiro... À queima
roupa.
A menina dos cabelos escuros engoliu a seco. Era um jeito horrível de se morrer... Uma morte brutal. Rápida.
- Ainda não entendo. – disse com a voz falha. – Quem... A matou?
O silêncio reinou pelo ambiente enquanto Luinha se perdia em perguntas, fixando seu olhar nos olhos pesarosos de Mel.
- Chay, eu ainda não entendo porque me chamou aqui. – Rod disse mordendo um cachorro-quente, na lanchonete em frente à escola.
- Queria ficar a sós com você... – Chay brincou, fazendo o amigo dar o dedo e em seguida, gargalhando.
- Sério, dude. O que foi? – encarou-o desconfiado.
- Mel está conversando com a Luinha...
- E...?
- Sobre a Iv. – disse devagar, fazendo com que Rod se engasgasse.
- Por quê? - ele perguntou entre soluços.
- Escute tudo antes de dar palpite, okay, mate? – o outro perguntou com cautela.
-
Festinha na sua casa? – Duan perguntou, sentado a duas mesas dos outros
dois rapazes, na lanchonete. Estava conversando com o capitão e o
zagueiro do time de futebol.
- É, meu chapa. Morar sozinho tem suas vantagens... – Bennet gargalhou.
- Ótimo. – o loiro deu de ombros. – Que dia?
- Sexta à noite. Chame quantas pessoas quiser. – sorriu maliciosamente. – Quanto mais melhor.
O
garoto andava inexpressivo até o Audi preto, passando pela grama do
pátio da escola. Incomodava-se com o barulho. Incomodava-se com as
pessoas. Incomodava-se com o ambiente...
- Thur! – ouviu uma voz feminina gritá-lo.
‘Merda’, pensou antes de olhar friamente por cima dos ombros.
-
Por que não me ligou depois? – a garota dos cabelos loiros e longos fez
bico. Ela tinha os olhos muito azuis e um rosto que, se não fossem as
circunstâncias, ele acharia bonito.
- Depois de quê, Brit? - estava completamente impaciente.
- Você sabe... – ela o abraçou pela cintura, sorrindo insinuante.
-
Brittany, olha... Eu estou sem tempo agora. Não posso conversar. –
afastou seus braços e continuou seguindo para o veículo, deixando uma
menina furiosa pra trás.
'As coisas não serão novamente assim... Não mesmo!', ela pensou, soltando quase um rugido.
- Ninguém sabe ao certo... – Mel respondeu, depois de alguns largos segundos em silêncio.
- Como assim ninguém sabe? Ninguém foi preso? A polícia não foi atrás do culpado? – Lua assustou-se.
- Até que foi... Um jardineiro. Mas não acredito na culpa dele...
- Melzinha! – a garota levou a mão a boca. – Quer dizer que o criminoso pode estar à solta?
-
Ele está à solta. – Mel enrijeceu o maxilar, estreitando os olhos. Lua
sentiu o coração bombear mais fortemente com a declaração.
- Como você tem certeza? – perguntou baixo.
- Eu o vi.
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